Jaime Calado quer retomar obras e começar Ponte dos Mártires

 

 

Por Tribuna do Norte – Ao assumir a Prefeitura de São Gonçalo do Amarante, na Grande Natal, o prefeito Jaime Calado (PSD) revela que se deparou com o que classificou como uma “política de terra arrasada” deixada pela gestão anterior do ex-prefeito Eraldo Paiva (PT). Em entrevista à Tribuna do Norte, o chefe do Executivo destacou que o município enfrenta dificuldades financeiras devido a um empréstimo milionário em dólar, contraído em gestões passadas, que bloqueou recursos das contas públicas. Calado detalhou o impacto da dívida e criticou o aumento das despesas com a folha de servidores efetivos, que comprometeu o pagamento do empréstimo. O prefeito também revelou problemas estruturais em diversas áreas, como saúde, educação e serviços básicos. Segundo ele, a nova gestão já adotou medidas emergenciais para reorganizar o município, incluindo a retomada de obras paralisadas e a redução de despesas. Em meio aos desafios, o prefeito destacou projetos para melhorar a qualidade de vida da população, como o fortalecimento da educação, construção de equipamentos culturais e esportivos, e ampliação dos serviços de saúde. Calado afirmou que buscará apoio de todas as esferas governamentais para viabilizar os projetos, ressaltando que sua prioridade será o povo de São Gonçalo.

Qual o cenário o senhor encontrou ao assumir a Prefeitura de São Gonçalo do Amarante?
Foi feita uma verdadeira política de terra arrasada e não é uma terra arrasada comum que a maioria dos prefeitos às vezes assume com muita coisa para fazer. É uma terra arrasada que vai durar 15 anos, porque foi feito um empréstimo em dólar para esse prazo. Nos cinco primeiros anos, de 3 e 4 milhões de dólares. Então, o acertado lá no contrato e na lei que aprovou isso aí é que nos cinco primeiros anos, pagasse só os juros. Ele deixou quase 8 milhões do juros, não pagou e o Tesouro, como estava previsto, bloqueou as contas de São Gonçalo nos dois últimos dias de governo. Então, neste instante, tudo que entra aqui vai para esse bloqueio.

E esse recurso foi usado?
Foi. Foram R$ 180 milhões usados em obras. O ex-prefeito Paulinho Emídio foi quem fez o empréstimo e usou a metade. O “ingrato” gastou a outra metade. O empréstimo foi feito na gestão do Paulinho. Para isso, ele preparou o município. A capacidade de pagamento da prefeitura era A, que é a melhor que existe. Por isso que o Tesouro Nacional avalizou, e o Senado também. O que acontece? O Paulinho, quando morreu, deixou 20 milhões em caixa. Quando esse cara entrou, ele aumentou a folha em R$ 2 milhões. Isso dá R$ 26 milhões. Mas aí, no ano seguinte, que era esse ano eleitoral de 2024, ele aumentou mais R$ 3 milhões na folha dos efetivos. Isso dá R$ 39 milhões no ano. E o empréstimo agora, a partir desse ano e nos próximos 15 anos, paga os juros, mais o principal. Isso dá 40 milhões por ano. Então, o dinheiro que era para pagar esse empréstimo, foi para a folha dos servidores efetivos.

O senhor afirma que o dinheiro que seria usado para pagar o empréstimo foi para a folha de pagamento dos servidores efetivos?
Sim, e isso não pode ser alterado. Isso poderia ter sido usado para dobrar a quantidade de cargos comissionados, secretários e adjuntos, mas, no caso da folha de efetivos, não podia ser cortado. Se ele tivesse feito isso, era só não nomear essa quantidade, estava feita a economia. Só que na folha dos efetivos não pode tirar mais. Ele colocou uma cruz nas costas de São Gonçalo. Além disso, ele conseguiu destruir todas as áreas, como educação, saúde, esporte, cultura… Tudo está destruído, uma situação que nunca vi.

Se estendeu para todas as áreas, então, essa situação?
Todas as áreas, mas a gente está tomando uma série de medidas. Vou reduzir 20% os cargos comissionados, 20% os terceirizados, estou reduzindo até meu salário, estou fazendo um requerimento renunciando a 10%. Isso não resolve, mas é um gesto para mostrar como a austeridade vai ter que ser em todas as áreas. E procurar também melhorar as receitas. Vamos fazer um Refiz na prefeitura, outro no SAAE porque ele quebrou o SAEE de uma forma dramática.

Como está a situação do Serviço de Abastecimento de Água, o SAAE?
O presidente do SAAE está tentando botar água nas casas, porque tem umas adutoras rurais que queimaram as placas da parte eletrônica. Está tudo sucateado, os produtos químicos para o tratamento da água estão vencidos e as licenças vencidas. Ficou devendo mais de R$ 2 milhões à Cosern. Isso porque Paulinho, quando morreu, deixou R$ 8 milhões no SAAE.

Esse cenário vai interferir na oferta dos serviços básicos?
Vamos trabalhar aqui pedindo ajuda de todos, fazendo um verdadeiro mutirão e vamos cumprir, se Deus quiser, o nosso programa de governo. Todas as nossas medidas são preservando e melhorando os serviços. Por exemplo, nós começamos já um mutirão de limpeza no bairro Jardins, que é maior do que o município de Pau dos Ferros, com uma população maior, mas está abandonado. Nós estamos fazendo mutirão. Com a equipe da saúde, estamos nomeando novos gerentes, adquirindo medicamentos, porque faz mais de um ano que nenhuma unidade de saúde de São Gonçalo funciona normalmente com medicamentos.

Há problemas com abastecimento de medicamentos?
Visitei o depósito de medicamentos e verifiquei que eles tinham tirado dois caminhões de medicamento vencidos. Isso é uma crueldade. Quando a gente mudou os gerentes, começou a encontrar medicamentos vencidos também nas unidades. Começamos uma série de medidas emergenciais para não faltar medicamentos, para restaurar as unidades que estão caindo aos pedaços. E quando estiver funcionando, vamos fazer inovações, vamos fazer a entrega do medicamento em casa para aqueles doentes crônicos, vamos dar o resultado dos exames em WhatsApp, trazer telemedicina para dar um acesso de qualidade aos especialistas.

E quanto à educação do município?
Ele aumentou R$ 5 milhões por mês na folha e deixou o diretor das maiores escolas, com mil alunos, ganhando R$ 2.600. Por isso que o nosso IDEB é um dos piores do Estado. Então nós estamos fazendo um trabalho muito forte a partir deste ano, um grande programa de alfabetização e outro de reforço para recuperar a qualidade da educação dos nossos crianças e jovens. Vamos fazer programas que tragam a família para dentro das escolas e a gente quer uma aproximação maior com a saúde.

E sobre obras em andamento. O que o senhor encontrou?
Segunda-feira nós estamos retomando a obra do hospital que está paralisada há dois meses. Por exemplo, o hospital, que foi um sonho quando fui prefeito. Nós brigamos quatro anos para conseguir a aprovação da Comissão Técnica do Ministério. O Paulinho deu sequência, conseguiu o primeiro recurso, fez a licitação do hospital no terreno que a gente já tinha conseguido. E agora essa obra está parada há dois meses, nós vamos retomar. Vamos também começar a ponte dos mártires que foi uma luta de Paulinho, já meio doente,mas conseguiu com o então-ministro Rogério Marinho, que liberou, conseguiu os primeiros recursos. Ela não foi iniciada até hoje ainda por problemas de licenciamento, mas já estamos tendo os primeiros contatos para conseguir a liberação.

Há outras obras previstas?
Então, essas duas obras são as duas maiores aqui do município, mas também vamos fazer um estádio, seja multiuso, seja só para futebol. Vamos fazer uma rodoviária, que a cidade não tem rodoviária. Vamos fazer também uma escola de arte, cultura e um teatro. Um centro cultural, um teatro com 800 lugares, todo modulado.

De onde virão os recursos?
Isso é conseguido com emendas parlamentares. E a emenda quando vem só pode ser usada para aquilo. Então, se fosse para pegar aqui do recurso da prefeitura e fazer, realmente não daria nem para pensar nisso. Mas vamos fazer também cinco creches, duas escolas e pelo menos quatro unidades básicas de saúde. Porque tem umas áreas que estão crescendo muito. Vamos precisar de mais duas unidades de saúde e duas escolas a mais. Um ginásio, com as medidas da FIFA para competições internacionais.

O senhor vai pedir apoio da governadora Fátima e do presidente Lula?
Vamos pedir a ajuda de todos, todos. Eu não vou pedir para mim, vou pedir para o nosso povo. Vou pedir a todos os parlamentares da bancada, sem exceção. Vou pedir ao governo do Estado, vou pedir ao governo federal. Então, motivo para pedir eu tenho de sobra. E vou levar bons projetos. É para isso que nossa equipe está entusiasmada, trabalhando muito.

E quanto aos fornecedores?
Só vamos ter um retrato mais apurado em 15 dias, porque eles formataram todos os computadores, apagando tudo. Eu mandei fazer em Boletim de Ocorrência porque têm que explicar o que esconderam lá. Não pagaram os juros do empréstimo, estão bloqueados quase R$ 8 milhões. Não pagaram o precatório de R$ 788 mil que é com a justiça, que vai bloquear também, eles não pagaram o lixo, que é quase R$ 2 milhões e nem os médicos de plantão do Hospital Belarmina Monte, que era R$ 400 mil em outubro, 400 mil em novembro. Enfim, onde a gente olha, tem fila de credores. Não deixou nada, é uma política de terra arrasada. Uma verdadeira sabotagem.